terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Rio Marchinhas 2015: repertório eclético e alto astral na volta aos Arcos da Lapa

Foto: Páprica Fotografia/Daniel Chiacos
Rio Marchinhas: bailes gratuitos em pleno cartão postal

Música de primeira e foliões animados num dos cartões postais mais lindos da Cidade Maravilhosa.

É essa a receita básica do Rio Marchinhas, evento da Fundição Progresso – com patrocínio da RioTur – que há cinco anos é uma das marcas do carnaval carioca, com bailes a céu aberto (e entrada franca!) realizados na Lapa. Depois de sacudir a Praça Tiradentes no ano passado, neste ano o Rio Marchinhas volta à Praça Marechal Câmara, juntinho aos Arcos da Lapa.

Além do belo cenário, o evento tem como destaque a diversidade do público (de petizes fantasiados a senhorinhas serelepes) e o ecletismo do repertório, com marchinhas de hoje e de ontem, sucessos de Beatles e Roberto Carlos vertidos pro carnaval, eternos sambas-enredo e gêneros musicais carnavalescos de todas as partes do Brasil.

Com o tema “Lapa d’água na cabeça”, o Rio Marchinhas 2015 terá oito atrações do sábado de carnaval até a terça-feira gorda. Confira a programação, separe o confete e a serpentina e prepare-se para se esbaldar na Lapa:

Sábado, dia 14
21h: Casuarina

Domingo, dia 15

Segunda, dia 16

Terça, dia 17
21h: Cordão do Boitatá

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Gostosa, maliciosa e patrimônio imaterial

J. Carlos
Eu sou gostosa, maliciosa
Não leve a mal
Politicamente incorreta
Sou a marchinha de carnaval

Feita a quatro mãos pelos mestres João Roberto Kelly e Eduardo Dussek, a marchinha-sobre-marchinha lançada no CD do 6º Concurso Nacional da Fundição Progresso (2011) já merece uma atualização. É que, além de gostosa, maliciosa e politicamente incorreta, a marchinha carnavalesca agora é patrimônio imaterial do Rio de Janeiro. Foi o que noticiou a coluna de Ancelmo Gois no jornal O Globo de ontem, informando o decreto do prefeito Eduardo Paes, publicado na edição de hoje do Diário Oficial do Município.

No decreto – que tem o número de 39751 e foi publicado logo na primeira página do D.O.U. de ontem – nosso ilustre mandatário reconhece “a relevância do gênero musical conhecido por Marchinha de Carnaval, uma manifestação musical nascida na cidade” e declara a mesma “Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial”.

Paes, que no ano passado foi muso às avessas da campeã do Concurso de Marchinhas (Cadê a viga?, de Cássio e Rita Tucunduva), publica seu decreto às vésperas do carnaval que comemora não só os 450 de fundação da cidade, como os 80 do lançamento – em 1935 – de Cidade maravilhosa (André Filho), a marchinha que se tornou hino do Rio de Janeiro.

O Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso saúda os foliões de todo o Brasil, ergue um brinde aos personagens que ajudaram a construir essa história (Chiquinha, Lamartine, Braguinha, Noel, Haroldo Lobo, Nássara, Mário Lago, Kelly...) e agradece à Prefeitura – e em especial o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade – pelo tombamento do mais carioca dos gêneros musicais brasileiros, atendendo ao pedido feito e protocolado pela produção do Concurso de Marchinhas em 1 de setembro de 2014.

Viva, enfim, a marchinha de carnaval!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Gustavo Krause: 'Quando saiu o anúncio da vitória, parecia gol do Brasil aqui em casa'

Foto: Jornal da Besta Fubana
Gustavo Krause, político e folião, no
desfile do Galo da Madrugada
Gustavo Krause se preparou como num jogo importante de futebol: cerveja gelada, tira-gosto, família reunida e TV ligada. Impossibilitado de comparecer à final do 10º Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas, por compromissos pessoais, o parceiro de Jota Michiles na composição de Adoro celulite confessa que só relaxou quando o Fantástico deu a vitória a sua marchinha, com 50% dos votos.

“Ah, foi uma maravilha... Parecia gol do Brasil aqui em casa!”, revela o folião-político de 68 anos, natural de Vitória de Santo Antão, na zona da mata pernambucana. “No dia seguinte, fui parabenizado pelas pessoas nas ruas. E senti que o resultado massageou o coração do pernambucano, que – assim como o Rio e a Bahia – tem uma cultura carnavalesca marcante no Brasil inteiro. Uma cultura legítima e sofisticada.”

O trabalho pela vitória da marchinha de “protesto contra a ditadura da beleza” foi intenso, mas Krause defende que nada disso seria suficiente não fosse o poder de comunicação de Adoro celulite. “Votamos aqui em casa, os amigos votaram, os familiares também... Mas nada disso teria levado à vitória se a marchinha não tivesse dado liga. Foi graças a essa liga que a nossa votação ganhou escala durante o Fantástico e nos colocou na frente das concorrentes.”

Entre os simpatizantes de Adoro celulite estavam certamente os foliões saudosos do Bloco da Celulite, que desfilou pela Praia da Boa Viagem no carnaval de 1993 (quando a marchinha foi feita) e nos anos seguintes brincou na base do concentra-mas-não-sai. “Uma das nossas marcas era anunciar celebridades que não iam: ‘Nesse ano virá Jô Soares!’. Ou então ‘Wilza Carla será nosso destaque!’. ‘Carla Perez vai comparecer!’ Tudo brincadeira. Ou gréia, como dizemos aqui em Pernambuco.”

Passada a vitória, nada mais natural que os foliões da Boa Viagem queiram a ressurreição do velho bloco. Mas Gustavo Krause pondera: “As pessoas estão querendo botar o bloco na rua de qualquer jeito, estão num fogo danado, mas não é assim. Precisa de tempo para produzir o negócio direito, conseguir recursos, divulgar, trazer os músicos... O que sei é que amanhã, no baile do Siri na Lata, vai ter uma homenagem a Adoro celulite. E que no meio da multidão do Galo da Madrugada, certamente vai ter um grupo da celulite.”

Outra certeza é a de que Krause – ex-prefeito do Recife (1979-82), ex-governador de Pernambuco (1986-87) e ex-ministro de estado em 1992 (Fazenda) e 1995-99 (Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente) – estará brincando carnaval. “Nunca deixei de viver minha vida de boemia, de boleiro e de peladeiro. São paixões das quais eu não abro mão”, define o marchinheiro, que quando o assunto é futebol se revela torcedor do Náutico. “As pessoas precisam separar seriedade e sisudez. Quem foi que disse que não dá para ser uma pessoa séria e brincar carnaval?”

Após a quarta-feira de cinzas, o campeão da 10ª edição do Concurso de Marchinhas (com o parceiro Jota Michiles) voltará a sua rotina de advogado na área ambiental e ao acompanhamento da carreira política de sua filha, Priscila Krause, que é deputada estadual em Pernambuco, pelo Democratas. “Hoje sou mais conhecido como o pai dela”, gaba-se o político-coruja. “E, claro, como o autor da marchinha campeã do carnaval de 2015.”

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A Praia de Copacabana, Alceu e a imprensa nas comemorações de Jota Michiles

Foto: Pedro Paulo Malta
Jota Michiles e Etiene, sua esposa e companheira nas
comemorações pela vitória de 'Adoro celulite' no 10º
Concurso de Marchinhas. "Ela é o meu diabo loiro!"
Telefonamos para Jota Michiles para saber como anda a repercussão da vitória de Adoro celulite no 10º Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas e ele nos conta que ainda não conseguiu sair do Rio de Janeiro. “Rapaz, era para eu ter voltado para Recife na segunda-feira, mas a imprensa foi solicitando e fui ficando, ficando...”, conta o compositor, enquanto aguarda uma equipe do jornal O Globo para fazer uma matéria e conta os minutos para participar, na sexta-feira, do programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo.

Jota conta ainda que a comemoração pela vitória foi feita numa caminhada por Copacabana, onde, acompanhado da esposa, Etiene (“Ela é o meu diabo loiro!”), foi recebendo telefonemas e mensagens enquanto cantarolava a marchinha campeã no calçadão e na areia fofa da Princesinha do Mar. “As pessoas foram me reconhecendo e me parabenizando pela marchinha, que pelo visto já está na boca do povo.”

Ontem à noite, Jota reencontrou o intérprete de Adoro celulite, Marcelo Mimoso, para irem juntos à apresentação feita pelo pernambucano Alceu Valença nos Arcos da Lapa, dentro da programação da 9ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE). “Foi um show lindo, emocionante, que teve ainda um ingrediente especial: o Alceu anunciou meu nome e dedicou o show e mim”, conta Jota, que é autor de alguns grandes sucessos do conterrâneo, como os frevos Bom demais e Roda e avisa, esse último em homenagem ao apresentador Chacrinha

Nos finalmentes da conversa, o vencedor do troféu Cidade Maravilhosa – com Gustavo Krause, seu parceiro em Adoro celulite – ainda lamentou o falecimento, anteontem, do primeiro campeão do Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas, o grande Homero Ferreira: “Ele era o autor de Me dá um dinheiro aí, maior sucesso do carnaval de 60, na voz de Moacyr Franco. Rapaz, que carnaval inesquecível foi aquele! Eu tinha 17 anos e vou guardar para sempre as lembranças daquele ano! Que Homero descanse em paz.”

Logo em seguida das lembranças de 55 anos atrás, Michiles retoma o assunto do presente e volta a falar de sua semana carioca. “Coincidiu tudo: a vitória da minha marchinha, os 450 anos da Cidade Maravilhosa, meus 50 anos de carreira e o meu aniversário, que aliás é hoje!”, disse Jota, logo depois de soprar as velinhas pelos 72 anos de idade na casa de seu irmão, Bartolomeu, que é morador do bairro da Ilha do Governador, na zona norte carioca. A ele, portanto, damos novamente o nosso parabéns.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Nota: morre Homero Ferreira, nosso 1º campeão e autor de 'Me dá um dinheiro aí'

Foto: Léo Aversa / O Globo
Homero Ferreira e seu violão na Fundição Progresso, onde
brilhou em 2006 com a vitória de 'Milagre do Viagra'
na primeira edição do Concurso de Marchinhas

É com imenso pesar que o blog do Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso informa o falecimento do querido compositor Homero Ferreira, ontem, em sua residência, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Homero foi o primeiro campeão da história do Concurso de Marchinhas, em 2006, quando a bem-humorada Milagre do Viagra (de sua autoria, com Chiquinho) foi eleita a melhor entre as dez finalistas daquele ano pelos telespectadores do Fantástico. Clique aqui para ver o compositor cantando a marchinha campeã de 2006 (e sendo coroado por Perfeito Fortuna) no palco da Fundição ou aqui para ver o clipe da música no Fantástico.

No ano seguinte, Homero se classificou novamente para a final do Concurso de Marchinhas, com Falso arlequim – marcha dele e do parceiro Didi Farag que incendiou o salão da Fundição com seus dois andamentos diferentes: lento no início (como marcha-rancho) e acelerado na segunda parte (como marchinha). Clique aqui para ver e ouvir Falso arlequim na interpretação do próprio compositor.

É também da autoria de Homero Ferreira um dos maiores clássicos do carnaval em todos os tempos: a marchinha Me dá um dinheiro aí, parceria dele com os irmãos Glauco e Ivan Ferreira que se tornou o maior sucesso do carnaval de 1960. “Ei! Você aí! Me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí!”, cantaram os foliões naquele ano, fazendo coro com o ator e intérprete Moacyr Franco, primeiro a gravar a famosa marchinha, todo vestido de mendigo, como se vê neste trecho do filme Entrei de gaiato, de J.B. Tanko (clique aqui para assistir). A música foi feita originalmente para o programa humorístico de TV A praça da alegria (de Manoel da Nóbrega), que tinha o mendigo Moacyr Franco como uma de suas atrações.

Homero Ferreira tinha 86 anos e, além de compositor e violonista (instrumento que aprendeu a tocar na infância), ganhou a vida como bancário, profissão na qual se aposentou. O sepultamento foi realizado no início da tarde de hoje, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.